11 de novembro de 2010

querido Paul

Sei que tuas intenções foram das melhores. Teu respeito ao público é coisa rara. Teu talento, indiscutível. Tua disposição venceu a de um estádio. Tua música é amor, o mais puro humano-amor. Mas sinto que não deveria ter ido a aquele show. Minha vida mudou ao te ver, e ainda não sei se isso é positivo. Calma, vou te explicar por que [e acho até que você, Sir., vai me dar razão]. Veja bem, depois de domingo:
Meu computador toca Beatles e não me concentro em mais nada.
Não consigo ouvir Something sem chorar.
Não existe pra mim pirotecnia sem Live and let die.
Minha tatuagem já não faz mais sentido.
Sinto como se continuasse anestesiada pelo teu som.
E ainda não tive coragem de tocar nos meus vinis de novo.
Penso mais em teu Tchê estrangeiro do que em qualquer outra tradição.
E as vezes me pego frente ao espelho ensaiando teus sinais.
Quase bati o carro ontem, quando o rádio tocou I've just seen a face.
Tenho me sentido como Eleanor Rigby.
Parece até que minha culpa de mãe aumentou, por ter assistido aquilo sozinha.
Minha vida não rola mais como a de Desmond e Molly.
É como se a sensação que vivi ali, contigo, fosse tão majestosa que não se pudesse mais alcançá-la.
Então estive pensando que um espetáculo desses é coisa pro fim da vida. É como gran finale: quando a pessoa pensa que já viu tudo, vem você, pra surpreender. Do contrário, a gente fica assim, imaginando que nada mais pode acontecer de tão magnífico daqui pra frente.
.
The End.

14 de outubro de 2010

. dos Franceses .

Eu realmente tenho estudado e trabalhado [muito] ultimamente. Pouco tempo me sobra para teorizações, reflexões extra-comunicação e outras diversões afins. Mas foi justamente numa imersão acadêmica que encontrei uma entrevista que merece ser partilhada. Trata-se do Baudrillard, querido Jean, falando ainda em 2003 sobre cultura, mídia, arte e realidade. Se você puder acessar o texto na íntegra [http://www.consciencia.net/2003/06/07/baudrillard.html], tenho a certeza de que vai se deliciar com a inteligência francesa. Se não tiver muita disposição, recomendo especialmente a seguinte questão:
.
ÉPOCA - Por que o senhor escreveu tanto sobre a cultura americana mas nunca refletiu sobre o Brasil, que o senhor tanto adora visitar?
Baudrillard - Já me cobraram um livro sobre o Brasil. Cito-o em minhas Cool Memories (trabalho no quinto volume) e em outros textos, mas a cultura brasileira é muito complexa para meu alcance teórico. Ela não se enquadra muito em minhas preocupações com a contemporaneidade, não tem nada a ver com a americana, com seus dualismos maniqueístas, um país que se construiu a partir das simulações, um deserto da cultura no qual o vazio é tudo. Os Estados Unidos são o grau zero da cultura, possuem uma sociedade regressiva, primitiva e altamente original em sua vacuidade. No Brasil há leis de sensualidade e de alegria de viver, bem mais complicadas de explicar. No Brasil, vigora o charme.
.
Enfim, é muito do que penso sobre a nossa distância dos estadunidenses.

10 de setembro de 2010

ao som de Like a Rolling Stone

Hey, nada de 'beware doll'. Deixa que a vida me alerte. Afinal é sempre o tombo que muda os movimentos. E quando a gente não sabe direito o caminho, ser pedra a rolar não é assim tão mau. A vida tem me levado ao banco, ao pub, a Dublin. E eu sei que o amor vai me pegar de qualquer jeito, numa dessas esquinas. A nossa liberdade tem um tempo, baby! E eu guardei alguns minutos pra você. Então vem, me decepcione, mas bem devagar! Porque faz tempo que perdi a pressa para o amor [pro prazer e pra dor].

3 de agosto de 2010

. Instant Karma .

Primeiro preciso dizer que posto completamente bêbada: estou embebecida de paz e amor. Acabei de ver o documentário "Estados Unidos contra John Lennon" e tenho certeza de que meus dias não serão mais os mesmos. Eu sei que não há nada de original em usar a mídia para promover suas idéias [algum dia também escreveram a Bíblia]. Também sei que a arte sempre foi a mais criativa forma de protesto [e que o amor é o maior dos clichês]. Sem contar que, 60 anos antes de John, Modigliani também morria cedo em seu romantismo. O que me comoveu de verdade na narrativa de Lennon foi a sensibilidade de uma juventude à paz: aquela paz do amor, do anti-nacionalismo, a paz do ser-humano [e só]. E vocês hão de concordar comigo: vê-se poucos humanos por aí. Bem, agora vou respeitar minha ressaca e digerir meu karma [porque uma vez descoberta a paz do amor-humano, não se pode mais ignorá-la].
.

21 de julho de 2010

. Sobre Caio F. e o amor .

Querido Jim, hoje vou te deixar de lado. A ti e a à vodka.
Meu papo agora é com o Caio F. [e estou dentro da taça de vinho].
Esse Fernando está aqui me falando sobre um “tapete gasto, antigamente púrpura, depois apenas vermelho, mais tarde rosa cada vez mais claro”. Já disse pra ele que entendo bem disso, e que meu tapete agora é nude. Meu amor está fashion, Caio! Vai ver é por isso que estamos conversando sobre ele. Mais podemos dizer sobre o amor quando menos amor [carne-desejo-dor] sentimos, não é?!
Meu amor já é morango mofado. E é assim mesmo: a gente só faz questão de lembrar dele quando esqueceu. E sonha com ele só depois de voltar a dormir tranquilo.
Tá bem, “estou me confundindo, estou me dispersando”.
Só queria te dizer que nunca tive um dragão morando comigo. Eu sou meu próprio dragão, Caio. Cresci com dragões, amei dragões. Chorei sua ausência quando partiram, justamente porque sou um deles e entendo perfeitamente que depois de tudo o amor fica nude.
Bem no fundo, todos somos dragões, daqueles que têm medo nenhum da solidão.
Tememos sim nossa própria lucidez sobre o amor e usamos a solidão apenas para causar pena nos velhos [porque você sabe neh?! Os velhos nos conhecem e têm pena de nós].
.
Bem, tive que tomar minha última taça [o médico me proibiu de beber].
Beijo Caio. Fica bem!


PS: a carta envelheceu sete dias, tive preguiça de vir ao correio. Sigo feliz. Começo as férias amanhã.

12 de julho de 2010

. As duas Fridas .



Frida tornou-se mãe. Enfim ela conseguiu. Eis a primeira semana em que o povoado falou mais nela do que dela. E daqui em diante vai ser assim: Frida mãe, Frida plena, Frida única. Sua vocação sempre foi a maternidade. Foi por isso que ela aguentou aquelas traições. Diego, oras, nunca prestou. Ele falsava o amor e precisava do sexo das outras pra se sentir maior que Frida. Todos sabiam. O povoado comentava. E Frida se fez surda às fofocas. Ela ignorou a família. Engoliu as lágrimas. Sublimou as mágoas. Se pintou linda outra vez: em rosa, em lilás, em amor. Afinal já era tarde pra começar de novo. E agora ela só queria ser mãe. Por vezes disseram que Frida era fraca. Hoje eu penso que Diego se fez sempre mais submisso. E a história vai confirmar minha tese: Frida venceu!
.
Essa é minha homenagem a uma Frida.
A Bravo do mês de julho prestou homenagem a outra.
[e vale a pena conferir!]

28 de junho de 2010

. Caro Mojo .

Depois do dia 24, minhas certezas se foram.
Voltei a ter dúvidas [várias]:
Ando oscilando entre Doors e Stones.
Entre o doutorado e um mês na Inglaterra.
Entre artigos e pesquisas para uma outra tattoo.
Entre roupas novas ou coisas retrôs da Internet.
Entre a ansiedade em decidir tudo isso de vez,
E a alegria de continuar pensando.
.
.
Eu morri aos 27 [e voltei à vida, beibe!]

17 de junho de 2010

. mr. izavo .

Nada está no lugar.
Alias, nem sei mais qual é o lugar de cada coisa por aqui.
Eu me sinto como uma ninfa, entre a larva e a borboleta.
E não tem nada pior nesse mundo que a indiferença,
[que o não-ser, que o não-sentir].
Tenho tido dias de vegetação.
E nem a raiva explode mais em mim,
Porque minhas dores terminaram com o mês de maio.
E tu sabe neh?! A dor move o homem – tanto quanto o desejo.
Agora, se quiserem espiar meus tropeços
[ou achar graça no niilismo do meu universo],
Eu deixo estar [e até agradeço].
Quem sabe assim me seguro em algum riso.
E tomo a voz que ouço como vetor para o caminho de volta.
.
.
Semana que vem devem me convidar pra alguma festa pobre.
E eu vou voltar a me divertir!

10 de junho de 2010

. do meu inferno astral .

Acabei de decidir que aquela coisa toda de inferno astral não passa de uma oportunidade forçada para a renovação. Nos 52 dias que antecederam meu niver ano passado, bati o carro, roubaram minha carteira e eu estava sem namorado. Nos 52 dias que estão antecedendo meu niver deste ano, eu bati o carro, roubaram minhas roupas do varal e eu continuo sem namorado. Tudo bem, comprei roupas novas e meu carro foi espelhado. Coisas vão, coisas vem - e as vezes voltam melhor!
Namorado?! Ah, resolvi repensar essa coisa toda de amor. Eu já não tenho a urgência do elogio, me conheço o suficiente pra não ter que me enxergar nos olhos do outro, e assim nem tudo o que vier é lucro. Estou deixando a vida rolar, com as minhas efemeridades, com planos que se modificam à minha vontade, com festas que faço dentro e fora de mim. Na verdade, quando a gente se conhece e sabe o que quer, o inferno astral não passa de um momento para repensar a vida. E é sempre melhor aproveitá-lo.

6 de junho de 2010

. retrô-colagem para o dia dos namorados .

O post de um blog amigo estava indicando presentinhos para o Dia dos Namorados. Eu não tenho namorado, mas como algum dia isso me teria sido útil, resolvi entrar no clima. E como [dizem] a gente sempre presenteia com aquilo que gostaria de ganhar, a minha dica é enquadrar a colagem reproduzida na página 72 da Bravo deste mês. Segue aí uma parte dela.


A colagem, da artista paulistana Leda Catunda, foi inspirada em Noel Rosa e é intitulada Rio Rosa. Em Frederico, por R$26,00 você teria o quadro pronto e o resto da Bravo pra se deliciar [sozinho ou acompanhado] pelo resto do mês. Muito melhor que aqueles bolinhos bonitinhos que custam R$30,00 e são enviados pelo correio [nunca vi um bolo macio e gostoso chegar com o carteiro].

4 de junho de 2010

. das coisas antigas .

Meu aniversário está chegando e uma amiga disse que vai me dar uma tábua de cozinha, daquelas floreadas, do tempo da vovó. Eu amei! E isso despertou em mim a vontade louca de começar mais uma bagunça retrô por aqui, e sair sem rumo catando tudo o que for vintage pra trazer pra casa. E olha que isso combina muito com época de niver [o tempo dos RES: reflexão, renovação, reforma].
Numa noite de navegadas e afins encontrei algumas coisinhas que muito me agradaram. A primeira delas são estas mesinhas e estantes de engradados. Coisa fácil de fazer, difícil é encontrar um destes por aqui.

Já imaginei uma mesa destas cheia de garrafinhas e embalagens antigas. Aliás, todo tipo de embalagem vintage me encanta, muito!

Se vocês esbarrarem nessas belezuras algum dia, por favor, não esqueçam desta pobre saudosista chegada numa coisinha retrô. Ah, e não podia deixar de postar alguma coisa muito especial pra galera que viveu a infância nos 80's.

Eu juro que trocaria todos os presentes de aniversário dos próximos 5 anos por uma destas coleções de lancheiras [a não ser que o presente fosse um móvel - qualquer móvel - com pé palito, porque o mobiliário dos 50's é o que há!].

20 de maio de 2010

Eu queria ter uma bomba ...

Argh!
Nem todas as mulheres de 27 alcançaram a sabedoria de JaJo. Uma pena!
Essa semana, uma produtora da RBS, que parecia ser profissional de ‘sucesso’, me disse que produz conteúdo para adolescentes como se fosse o irmão mais velho deles.
Eu bem que queria saber de onde é essa família, em que o irmão mais velho diz que bacana é se mostrar na coluna social, que a moda é aquela ali dos magros e que ter atitude é tentar se diferenciar [vestindo as mesmas roupitchas do colega, ouvindo o som comercial da MTV, e agindo como um rebelde sem causa – porque rebeldia é IN].
E a moça ainda se orgulha de ser, no auge dos seus 27, a mais velha da redação!#vergonhadaminhageração.
Ah não consegui ser platéia não, cumpri meu papel questionador e mandei ver:
- Tu não acha que tá reproduzindo uma sociedade passiva de forma que o adolescente continue falando de Fiuk em ano eleitoral (entre outras cositas mas)?
[e vejam só ...]
- A gente, na verdade, fala de política de forma que o jovem nem perceba que dizemos isso, caso contrário ele não lê e a gente não vende a revista.
Agora me digam vocês (porque ela já não saberia responder mais nada): o que esperar dessa juventude que tem um ‘irmão mais velho’ socialmente bitolado e que engana o mais novo pra tirar sua mesada?
Bah, foi aí que eu senti uma vontade enorme de cantar numa banda de rock, de ter minha própria revista, de produzir alguma coisa independente na televisão, enfim, de ter espaço pra berrar [em letras garrafais]:
.
Hey cara!
Você não é o que você veste.
Você não é o som que ouve.
Você não é seus amigos, nem sua família.
Você não é a faculdade que cursa e nem os seriados que assiste.
Tudo isso faz parte de ti, mas não te define
[justamente porque são consumíveis por qualquer outro ser humano].
Você é naturalmente único e diferente do resto.
E você não precisa mostrar o tempo todo que tem atitude.
Banalizar a atitude é justamente não necessitar dela.
Atitude é idéia, quando se precisa de uma.
Atitude é transgressão, quando se sabe por que transgredir.
Toda vez que você luta pra se diferenciar, mais adota os signos do outro.
Por favor, não se preocupe tanto em construir-se como diferente.
Viva e deixe-se construir no teu próprio caminho.
.
Era isso que eu queria cantar [mas não tenho banda e canto mal pra caramba].
Era isso que eu queria publicar [mas a Quase já afundou faz tempo].
Então resolvi publicizar por aqui mesmo [afinal o blog aceita qualquer desabafo!].

9 de maio de 2010

. da Auto-Ajuda .

.
Foi quando eu parei de me queixar da solidão que ela se afastou de mim.
Porque a solidão é daquelas coisas que a gente inventa.
Falácia pura.
É o fantasma que a gente adora cultivar, pra depois se fazer de vítima.
[Êta humanidade safada!]
Como pode existir solidão quando 'cada um de nós é um universo'?
[E eu acredito em Raul toda vez que olho pra dentro].
.
Eu sou um universo formado pelas escolhas que fiz, e nele não há espaço pra solidão, porque o que eu escolhi um dia [livro, música, pessoa e sentimento] não me deixa sozinha jamais.
.
.
.
Ah, querido Jim, queria te contar que 'Revolution' já faz parte do meu universo.

28 de abril de 2010

People are Strange

É Jim, pessoas ficam estranhas quando a gente se estranha.
Eu andei me estranhando. Foram dias de solidão, solidão de mim!
Sei que tu também já te sentiu assim: como se as ruas fossem irregulares, como se ninguém lembrasse teu nome, enfim, como um viajante na tempestade.
Cara, esse fim de semana alguém me mandou olhar no espelho. Eu olhei.
Sabia que aos 13 eu cantava Satisfaction repetidamente na sala vazia da minha casa? Ri alto quando vi isso aqui dentro. Lembrei também que eu curtia pra caramba as baladas do Guns [uma pena ter faltado a aquele show]. Sabe Risin, respeitar a vontade dos outros nem sempre dá certo. A gente se perde [e se estranha].
Falando nisso, lembrei do tempo em que eu não sabia se era uma felizarda nessa cidade das luzes ou apenas mais um anjo perdido. Olhando pra ali agora, eu vejo que não era nem uma coisa nem outra. Eu só sigo experimentando a vida mesmo, tentando explorar o que dá [mas não se engane hein, eu ainda sou careta!].
Sabe qual é o meu problema, cara?! É que não posso passar tanto tempo sem olhar pra dentro, senão fico ali como uma esponja, absorvendo os outros, e tudo o quem vem com eles. Ouvi dizer que tu também já passou por isso.
Queria ter discutido essas coisas contigo em cada taça de Gato Negro que tomei nos últimos anos [assim não teria que ter conversado com tanta gente chata].
Eu sei que tu tem seguidores por aqui, mas ainda não me aproximei tanto deles. Pelo menos consegui olhar pra dentro de novo, e isso já é ótimo, neh?! Agora me reconheço e as pessoas voltaram a me encontrar. Elas sabem meu nome, e eu não vejo mais rostos feios. Definitivamente, não sou um anjo perdido (e te prometo passar dos 27!).
Mojo Mojo, nunca tive a pretensão de lançar anagramas por aí, mas agora estou até pensando em acelerar certos projetos [vê se dá uma forcinha ta?!].
.
.
Ah, minha tattoo vai ser dos Beatles [tu sabe que eles sempre estiveram aqui]. Mas eu ando tão Doors, Jim!
Ontem mesmo me peguei frente ao espelho, fazendo careta e cantando:
Come on baby, light my fire!
.
Eu sei, agora é só deixar rolar!

13 de abril de 2010

Espatódea

Existem dez anos já, entre o que sou hoje e o que seria de mim sem ele. Eu entendo que ali nasci de novo, porque uma alegria sem medida se abriu com seus olhos, uma culpa de não conseguir fazê-lo feliz me acompanha desde seu primeiro choro e um amor indescritível me envolve desde que o tomei em meus braços: naquele 14 de abril de 2000. Depois dele, eu nunca mais estive sozinha, porque mesmo quando a gente se separa, os sentimentos que nasceram com ele me acompanham: vem aquele medo de que algo de ruim o aconteça, aquela ansiedade de vê-lo voltando logo, e a total incompletude de nunca mais ser eu mesma [porque também sou ele agora].
Engraçado como naquele dia me dividi e, ainda assim, me senti mais forte, mais humana, mais responsável pela vida nossa. Desde então, sou outra, e agradeço a Deus todos os dias por isso.
.
Meu amor [Minha cor, Minha flor, Minha cara]
Não sei se o mundo é bom,
Mas ele ficou melhor
Quando você chegou
E perguntou:
Tem lugar pra mim?
.

8 de abril de 2010

Meu curioso caso ...

Confirmei minha tese de que percepção consiste numa tríade: de experiência, sensibilidade e momento. Por isso um filme nunca é. Ele torna-se. Torna-se algo pra mim e outro algo pra você [tudo depende de quem somos no instante da percepção].
.
Nesta semana, eu me rendi a O Curioso Caso de Benjamin Button, apesar de vários comentários contra. Sim, eu percebi seus clichês e os equívocos de Fincher. Mas, sinceramente, não liguei pra nada disso. Foram duas horas e 40 minutos de pura magia, de diálogos intensos e de complexas reflexões sobre minha própria linha do tempo. Eu já pensava, cá com meus botões, que não é o tempo que nos diferencia dos outros, mas as fases a que o tempo nos permitiu chegar. E Benjamin Button é a figura dessa minha fábula: sua narrativa trata da luta entre o tempo (que é igual para os dois amantes) e as fases no tempo (desgraçadamente diferentes para eles).
Ao contrário da interpretação de muitos, Button me mostrou que o tempo não é soberano. Ele age sobre nós, sim, mas são as escolhas que fazemos sobre o tempo que mudam nosso caminho. Há tempo para tudo o que queremos fazer, e para todas as pessoas que queremos ser. Não é o tempo quem nos diz o que escolher agora – nós fazemos nosso próprio tempo. Somos diferentes e nos sentimos diferentes, mas vamos todos na mesma direção – cada um por seu próprio caminho.
Alguma crítica me disse que a única chance de amar que aqueles personagens tinham estava na época em que ambos aparentavam idades semelhantes. Discordo. Não existia apenas um momento deles para o amor – eles amaram até o final – existia, sim, uma escolha sobre o tempo. Eles escolheram estar juntos, no tempo da relação, e amar por toda a vida, independente da idade.
Depois de Button, eu nunca mais culparei o tempo por nada [e sugiro que você faça a mesma coisa]. Afinal, “nossa vida é definida pelas oportunidades” (tanto por aquelas que abraçamos, quanto por aquelas que deixamos partir).
.
.
Também depois de Button não confio mais em críticas cinematográficas [nem de profissionais, nem de amigos].

3 de abril de 2010

All you need is love

Ah, a Páscoa me pegou outra vez.
E estou com uma vontade enorme de gritar ao mundo:
.
There's nothing you can do that can't be done
Nothing you can sing that can't be sung
Nothing you can say, but you can learn how the play the game
IT'S EASY
.
Então meus votos de renovação desta vez seguem ao som de Beatles
[porque "all you need is love", sempre!]

29 de março de 2010

I.S.

.
Entre o amor e o lixeiro automático, a juventude de todo o mundo já fez a sua escolha, e prefere o lixeiro" (Gilles Ivain, 1958)
.
Os situacionistas estavam certos: a banalização invadiu o planeta e a juventude ficou hipnotizada pelo elevador, pelo chuveiro elétrico, pela máquina de barbear. Cinquenta anos depois da I.S., dedicamos uma hora/ano ao planeta [ao escuro, ao silêncio, à reflexão]. Todo o resto do tempo nos voltamos ao consumo [de idéias prontas, de comidas congeladas, de vidas arranjadas]. É preciso retornar à psicogeografia: cada vez mais o território urbano, voltado ao consumo, às hierarquias comerciais, aos poderes mascarados modifica o comportamento afetivo dos indivíduos. Façamos diferente: quero poesias em outdoors e publicidades em livros; quero reflexões de paz e amor sendo jogadas de sacadas; quero um luau filosófico na praça central; quero arte em lugares públicos; quero um anúncio de jornal que não venda absolutamente nada mais que uma idéia [de harmonia, de esperança, de humanidade].
.
UM VIVA À INTERNACIONAL SITUACIONISTA!

25 de março de 2010

Humanidade Ponto.Com

.
Conversei com Nei Lisboa esta manhã e ele ficou me dizendo aquelas coisas sobre os novos deuses virtuais:
.
A humanidade ponto com
A salvo em seus portais
E a fome sem fronteiras
Às portas do Sudão
.
Então resolvi perguntar:
QUANTO DA TUA VIDA É VIDA [E QUANTO É POSTAGEM]?
.